RENASCITUDES

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Contrapartida



Não me digas que já é tarde.
Guardei-me para o teu regresso
Em mim, a força do sol ainda arde,
Não deixo que a brisa sopre, confesso!

Com tempo, fui talhando-me com maestria.
Maturei, retocando princípios e passados;
Cada traço, iluminado pela luz da poesia,
Despiu de dor os sonhos mais delicados.

Equilibrei, nivelando o medo com a bravura,
Hora protegendo-me no calor do teu abraço,
Hora lutando contra minha própria loucura,
Mas recolhendo vestígios em estilhaço.

Suavizei minha pele com água do lago.
Perfumei-a com essência do puro jasmim.
Lembrando as nuanças do teu afago,
Compus melodia para o nosso festim.

Selei meu ciúme emprestando tua paisagem;
Sem céu, sem mar, preparei a terra,
Há de chover, brotar, não é visagem,
Algumas nuvens já dançam lá na serra.

Eis-me aqui inteira após tantos anos;
Refeita, serena, renascida, enfim.
Meu olhar acena para o teu sem danos...
Mas tu, o que guardaste pra mim?

Autoria: Ilka Vieira

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