RENASCITUDES

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Minha Outra Face


Inquieta sombra trago pendurada
reverso do que aprecio e exponho.
Somos um só corpo ligado a duas almas:
uma guardada pela agonia oportunista,
a outra resgatada pela fantasia contestável.

Somos duas em uma só plataforma:
uma partindo, a outra estacionada,
adormecida,
proveta de sonhos,
flor artesanal...

Alojamo-nos no mesmo barco;
enquanto uma rema,
a outra mergulha e desapropria-se.

Olhamos na mesma direção,
mas damos formas diferentes
a uma única imagem:
uma encarcera a lua e a outra
faz sorrir uma lua encarcerada.

Formamo-nos no mesmo útero e
por conseguinte, 
afagadas pela mesma mão.
Buscamos vidas na mesma vida,
enquanto uma vive intensamente,
a outra finge que o faz.

Autoria: Ilka Vieira

2 comentários:

  1. Ilka, querida poeta, que linda surpresa! Estava navegando pela internet e vi seu nome em diversos sites, inclusive neste que parece ser de sua propriedade. Fiz muitos passeios compensadores, foi uma 2ª feira encantadora. Lembrei logo de cara desse poema, assim como lembrei de vários que aqui estão. Lembrei também do tempo em que éramos muito próximas, muito amigas, porque é isso mesmo, a poesia aproxima as pessoas, depois a gente pensa até que as perdeu, mas eis Ilka Vieira aí de novo diante do meu olhar, das minhas emoções. Seu blog está belo demais e bem organizado, consegui conhecer grande parte dele e voltarei sempre!
    Beijos.
    Virgínia Neves (Vivi - Juíz de Fora)

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  2. Conheço bem e adoro esse poema: uma briga muito bonita entre os teus dois EUS. Um empate necessário, afinal, tem gosto pra tudo!
    Eu gosto da tua sutil transparência poética, ela obriga o leitor a reler muitas vezes, dá trabalho, mas é compensador!
    Saudade grande de ti, Ilka.
    Bjus
    Raquel

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