RENASCITUDES

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Lamento



Ah! eu me perdi nos teus cabelos
e me encontrei no teu sorriso.
Ouço a voz agressiva da morte que canta,
enquanto a madrugada prossegue.

Ouço a voz melíflua do cego romântico
e não tenho um piano para tocar
e não sei tocar também...

Palmilho com meus olhos o teu corpo
e minhas mãos se detém no caminho do gesto.
Era ternura, mas não entenderias...

Percorro a longa estrada do teu ser
e mergulho num sonho estranho,
enquanto a noite canta
e as palavras que fluem da pena
morrem estranguladas na garganta.

Ah! eu me perdi nos teus cabelos
e me encontrei na selva viva dos teus olhos
e era dia ainda.
Havia uma estranha luz crepuscular
no risco azul do teu sorriso,
mas não havia flores em tuas mãos
nem lágrimas no teu caminho.

Apenas o cego cantava romântico
e a morte entoava sua última canção.
Há uma verdade. Sabemos que há.
Mas não é importante.
Ou tão importante como o gesto detido,
como a ternura tolhida,
como o olhar profundo iluminado,
diverso e diferente.

Os loucos caminham pela noite.
Os cães ladram desesperados.
A morte canta.
O cego cala.

Quando o dia chegar, eu terei luz
e não precisarei dela,
terei o piano e não saberei tocar.
Terei palavras,
mas não conseguirei escrever.

Autoria: Ilka Vieira

2 comentários:

  1. Belíssimo, lírico tal qual o seu estilo. Amei!
    Beijos,
    Terezinha Monteiro

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  2. O lírico de Ilka Vieira nos leva junto à sua emoção. Que lindo isso!
    Bjus, Raquel

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